DEU CHINELADA NO DENTE DE CHINA Vejo-me (evoco-me) num extinto mezanino do Shopping Center Iguatemi, em 1991, degustando uma lata de Diet Coke (contém fenilalanina, etc.). Talvez haja sobre a mesa de granito branco uma sacola da extinta Livraria Siciliano, onde talvez haja um exemplar do Manual de redação e estilo do Estadão. Talvez eu esteja prestes a rir de algo que acabei de ler, uma lista de termos pejorativos vetados pelo jornal, palavras que alegadamente agridem raças, nacionalidades, orientações políticas, etc. – china (como sinônimo de chinês), vermelho (como sinônimo de comunista), carcamano (como sinônimo de italiano), etc. É bastante possível, também, que eu esteja sob efeito de uma cena que vi em Wild at heart, direção de David Lynch. Assisti ao filme por esses-aqueles dias, talvez num cinema aqui nesse shopping, o Iguatemi. A cena é aquela em que o Nicolas Cage enfia a mão no meio do traseiro de uma mulher que está subindo uma escada. Etc., etc. Todos fumam o tempo todo no filme (v. Nicotina, Os Replicantes). David Lynch morrerá nos primeiros dias de 2025, de nicotina, enfisema, DPOC e alguma praga rogada pelo doutor Drauzio Varella. A cena da escada me acompanhará vida afora.
EMPREGADA É SUGADA PELO RALO DA PIA DA COZINHA O Externato Meu Xodó (“que falta me faz um xodó”, etc.) foi a primeira instituição de ensino que frequentei, entre 1974 e 75, Rua Cajaíba, Pompeia, etc. Ainda tenho a primeira Bíblia que folheei, que era da minha avó Maria (Scarpini Haak). Embora ainda não soubesse ler, em 1974-75, sabia reconhecer analogias e semelhanças. Quando vi que a Bíblia tinha um livro chamado Êxodo, fiquei intrigado, tentando imaginar o que aquele livro caindo aos pedaços contava sobre a minha escola – Êxodo, xodo, xodó, meu xodó, Externato meu Xodó. Em 1974-75, por um breve período, minha constituição física adquiriu uma absurdidade plástica que o Salvador Dalí aprovaria. Basicamente, eu passei a enxergar através de minhas mãos, que eram vazadas por uma forma circular com, hum, cinco centímetros de diâmetro. Noutra ocasião, idem 1974-75, meu primo Boi me falou que a Dete, a empregada da minha tia, tinha sido sugada pelo ralo da pia da cozinha. Eu disse que queria ver. Subimos em duas cadeiras e nos debruçamos sobre a pia. Sim, a Dete estava lá, presa no ralo, gritando o nome da minha tia, pedindo que alguém a tirasse de lá. Passei a morrer de medo de olhar para dentro de ralos.
OLHE FIXAMENTE PARA OS PEITOS SENSACIONAIS DA PATRICIA ARQUETTE David Lynch foi um surpreendentemente bem sucedido mestre de cerimônias de um tipo particular de show de horrores. Apesar das firulas de sofisticação, dá pra ver que Lynch tinha uma mentalidade trash. Lembro-me quando ele esteve aqui fazendo palestras sobre meditação, hipnose, etc. Só puxa-sacos ao redor dele. Um desperdício. Por que não o apresentaram ao Sady Plauth? Por que não exibiram para o Lynch o filme No calor do buraco, talvez seu filme mais radical? Certeza que o Lynch iria adorar e, se bobear, iria transformar o Sady num cineasta internacionalmente conhecido.
(E aí, seus panacas, já compraram as bandeirinhas de festa junina (v. Alfredo Volpi) verde e amarelas para torcer por Ainda estou aqui? Não quero ser estraga prazeres, mas acho que tanto o Mauricinho Lírico quando a Fernandinha Bochechas Eróticas vão levar fumo. Sentemo-nos e aguardemos.) (Aguardemos é o caralho. No dia do Oscar vou me encher de Rivotril pra não correr o risco de escutar os inteligentinhos da zona oeste (v. Luiz Felipe Pondé) soltando rojões se a Fernanda ganhar.)
CAPAS DE PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, TALVEZ PORQUE A HUSTLER TENHA CHEGADO ANTES A fulana que tem as nádegas apalpadas pelo Nicolas Cage em Wild at heart. A mulher é linda e não consegui descobrir o nome dela. Acho que não está creditada no elenco. De qualquer forma passados trinta e quatro anos hoje ela deve ser uma velhusca toda estropiada, cheia de botox, etc., etc.
28/01/2025