ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

PORTNOY Não me lembrava que Portnoy’s complaint termina com um quase estupro (para a sensibilidade contemporânea, etc.), que só não se consuma porque o caramuru de Alex dá chabu. Ri muito em várias partes do livro, como na parte em que ele, Alex, fala sobre a “legítima privada goyische” onde o pai de sua namorada, a Abóbora de Davenport, Iowa, dá suas cagadas gentias.

FILME PSEUDOIRANIANO Gostei muito do filme pseudoiraniano A girl walks home alone at night, USA, 2014, direção de Ana Lily Amirpour. Vampira que anda de skate (de skate e com aquelas roupas pretas que os aiatolás obrigam as mulheres a usarem no Irã) sai por aí estraçalhando as carótidas de homens maus, misóginos, etc. Quem não vê ironia nesse enunciado, que desdefine, pelo exagero quase caricatural, cinema iraniano e feminismo, é mulher do padre. A atriz que faz a vampira, Sheila Vand, é tremendamente bonita e, ao que parece, é uma boa atriz. Lembra a Lilian Lemmertz. Imagino o estrago que Walter Hugo Khouri faria dirigindo a moça.

MOVIDO A ÁLCOOL SÓ O MOTORISTA Era um adesivo que os engraçadinhos colavam no vidro do carro lá por 1982, porque os carros a álcool (hoje etanol) eram então obrigados a ter um selo colado no vidro, Movido a álcool, coisa do governo para tirar dinheiro do, sei-bem, contribuinte. (Aliás, alguém se lembra daquela macaquice de ficar buzinando nos túneis da Imigrantes, só de zoeira?)

ACHEI O DISCO QUE PROCURAVA HÁ ANOS, ETC. É (ou era) um adesivinho em formato de guitarra que era colado nas capas dos discos da loja Eric Discos, Rua Arthur de Azevedo, Pinheiros, São Paulo. Duas outras músicas que levei décadas para saber o nome, autor, intérprete, etc.: Flying vegetables of the apocalypse, de Guy Klucevsek, e Is it o.k. if I call you mine?, de Paul McCrane. A do Klucevsek eu ouvi uma vez, em algum momento dos anos 1990, na Cultura FM, 103,3. Ouvindo trinta anos depois, pareceu-me uma peça minimalista meio mal ajambrada, de alguém que não é do ramo. A canção do Paul McCrane eu achava, sei lá por que, que era da trilha sonora de Garota do adeus ou da trilha sonora de Mulher descasada. Na verdade é da trilha de Fame. (E dá-lhe velharias.) Não é ruim, a música do McCrane, mas logo dá no saco a coisa choramingas do sujeito feioso pedindo licença para chamar de sua a fulaninha, etc. (Uma vez escrevi um e-mail para a Cultura FM perguntando o nome da música usada como vinheta pela estação, etc. Os comunistas safados não me responderam. Acabei descobrindo por acaso que era Lollapalooza, de John Adams.)

PORNOGRAFIA Vi uma vez um debate de uma atriz pornô com um sujeito que questionava alguns aspectos da escolha profissional da moça, etc. Uma hora ele disse: se você se deixa ser filmada com uma vela enfiada no cu, não poderá dizer, daqui a vinte anos, que fez papel de bolo de aniversário no filme.

(Emoticon de risos.)

ALBERTA#3 Fui uma única vez ao Alberta#3, bar na Avenida São Luís que, soube agora, morreu de covid, lockdowns, etc. Foi em 2017. Passei lá para matar o tempo antes de ir a um lançamento de livro, Roberto Bicelli, Antes que eu me esqueça, versão revisada e ampliada, 2017. O lançamento foi na livraria Tapera Taperá, Galeria Metrópole. Descubro também que uma casa noturna que hoje existe na Vila Olímpia começou em 2006 no Conjunto Zarvos, ao lado do Alberta#3. O Centro viveu um breve momento de aparente revitalização na década passada, mas a brincadeira durou pouco, logo vieram os assaltos, etc. Hoje só dá pra passar por lá de carro blindado ou de – boa pedida? – tanque Merkava israelense.

Buuuum!

(E aquela cascata de que o Kiss havia comprado o tanque de guerra sobre o qual a bateria do Eric Carr era montada – um “tanque de guerra” feito de cartolina e papel alumínio – do próprio exército americano? Éramos tão caipiras em 1983 que caímos até nessa.)

(Procurem no Youtube Antes que eu me esqueça, curta metragem que Jairo Ferreira rodou em 1977 no primeiro lançamento do livro do Bicelli. Entre outras curiosidades, vemos um adolescente chamado Eduardo Giannetti da Fonseca – pai do Joel Pinheiro – lendo uns poemas, etc.)

03/12/2023