PASSEIO NOTURNO Saio do Madame (ex-Satã), são quase três da manhã. Maga Patalógica olha para a tela do telefone e acompanha o percurso do Uber, Magy Imoberdorf pergunta se não me importo se ela não me der carona hoje. Digo que não, não me importo, mas que preciso encontrar um ponto de táxi, ou ir para um lugar onde haja probabilidade de eu pegar um táxi que esteja circulando (v. “Livre como um táxi”, Millôr Fernandes). Magy atravessa a rua, agora há na Rua Fortaleza dois food trucks. O Uber de Maga Patalógica chega e nos despedimos, Magy passa de carro e não olha na minha direção. Afasto-me do Madame e sigo a Rua Fortaleza até a Rui Barbosa e espero um pouco em frente a um posto de gasolina abandonado que agora serve de lava rápido e estacionamento e nenhum táxi surge. Vou andando até a Conselheiro Carrão e sigo por ela e chego à Rua dos Franceses e vou subindo, e passo em frente a um hospital, e ouço uma espécie de rumor formado de resíduos sonoros distantes, e passo em frente aos prédios do totem, e subo a Joaquim Eugênio de Lima decidindo se vou entrar na Cincinato Braga ou atravessar a Paulista e seguir pela Alameda Santos. Escolho a Cincinato pensando que talvez o sujeito que vi em frente ao pronto-socorro ali na Rua dos Franceses fosse uma assombração, alguém que morreu em 1999 e que às vezes vem passear na Bela Vista, especialmente de madrugada. Passo em frente a padaria com clima de Nelson Rodrigues aonde fui algumas vezes com o Carlos e a Andrea e cogito fazer o percurso todo até minha casa a pé. (Cogito fazer um treino longo de corrida algum dia desses, de madrugada, talvez indo até o Centro.) (V. Depois que todo mundo dormiu, Eduardo Piochi, 1982.) Finalmente vejo um táxi em frente ao Hospital Santa Catarina e vou ate lá e pergunto ao taxista se ele tem troco para uma nota de cinquenta e ele diz que não, então ofereço vinte reais pelo percurso até minha casa e ele aceita e eu subo no táxi.
MIRCEA ELIADE fala bastante sobre mitos não propriamente de origem, mas de inícios. Grandes inícios. Nossos grandes inícios. Nossos primeiros sonhos impressionantes. Nossas primeiras viagens. Primeiras percepções e intelecções. O cheiro de cigarro e bala Frumelo (framboesa, Lacta) do apartamento da minha avó Ida. (Minha avó fumava Minister e morava na Rua Iguatemi, 335.)
(Acho que o fantasma na Bela Vista era o Goulart de Andrade.)
LUÍS CARLOS ALBORGHETTI Vejo um vídeo chamado Alborghetti melhor sequência. O vídeo é de 1992. Alborghetti acende uma vela e fica rogando para que um bandido que está hospitalizado (tiro, etc.) morra. “Vai morrer ou não vai? Vaaai...” A imagem da vela se mescla à imagem de um demônio, com chifres e cara preta. Noutra parte, Alborghetti diz que PC Farias e os “meninos do Comandaço Vermelho” deviam ser fuzilados em praça pública. Depois festa, foguete, chope pra todo mundo, uma carne legal, costelaço, fica todo mundo lá, tomando chope e vendo o sangue (do PC, etc.) escorrer.
TELESP INFORMA Chama-se Rosa Baroli, a dona da voz do serviço de hora certa da Telesp, 1977-1998.
CAPAS DE PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, MAS QUE DEVERIAM TER EXISTIDO Hoje menciono duas: Serena Ucelli, em março de 1985 (“Intestino volta a funcionar: Tancredo já está cagando e andando”) e Emília Caldas, junho de 1987. Serena era proprietária e garota-propaganda do jornal de classificados Primeiramão. Aparecia na TV, toda linda, falando com um delicioso sotaque estrangeiro, que não parecia propriamente italiano. Etc., etc. Emília Caldas era uma das beldades do Afrodite se Quiser. Antes, havia feito uma interessante parceria com seu então marido, Robertinho de Recife (o álbum, Robertinho de Recife e Emilinha, 1982, que botou nas paradas Dominó, dominó, é uma obra notável e esquecida da música pop-popular brasileira). Emília poderia ser a irmã do meio de Vera Mossa e Nicole Puzzi. Como dizia Nelson Rodrigues, a mulher bonita, por si só, já é uma forma de epifania.
Etc., etc.
(Votei no Ricardo Nunes porque achei que ele ia acabar com essa coisa de blocos de rua em São Paulo, etc.)
(V. NEIDE TAUBATÉ, “NÃO É MESMO?) “O povo cerca a gente pensando que somos bi****, nós estrilamos com voz fina, quando eles quiserem tascar, a gente, e mais vocês, se for preciso, põe a maldade pra jambrar e fazemos um carnaval de porrada pra todo lado. Vamos acabar com tudo que é bloco de cr*****, no pau, mesmo, pra valer. Você topa?”, trecho de Fevereiro ou março, Rubem Fonseca.
19/02/2025