ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

O SEXO É UM CARROSSEL DE MONGOLÓIDES A frase, excelente, é do escritor Marcelo Mirisola. Mirisola tem ao menos uma obra prima, o romance O azul do filho morto, de 2002. Tive alguns contatos com ele, em idos tempos. Era uma figura difícil. Uma reação típica de Mirisola: você o elogiava e ele te respondia com alguma ofensa, em tom tremendamente agressivo. Vi isso acontecer mais de uma vez. Apesar dessas farpas, que numa ocasião sobraram até para mim, nunca deixei de admirar sua inteligência e talento. As últimas coisas que soube dele foram alguns artigos muito bons que foram publicados na revista Bula. Por onde anda Marcelo Mirisola?

https://www.revistabula.com/autor/marcelo-mirisola/

 

OBITUÁRIOS DE BARES MORTOS O Fran's Café da Jerônimo da Veiga, esquina com a Iguatemi, era um Fran's como qualquer outro de uma então extensa rede, exceto pelo fato de que era comum você ver por ali o Sílvio Santos, geralmente sozinho, tomando um café depois de ter arrumado os cabelos no Jassa. (Na época Silvio tinha um Crown Victoria branco com a capota verde que ele mesmo dirigia.) Outra figura fácil era o Érick Jacquin, um então jovem e desconhecido chef que comandava o restaurante Le Coq Hardy. Eu estava nesse Fran's quando deu no Plantão da Globo que um Fokker 100 da TAM havia caído sobre o Jabaquara. (Coincidentemente eu também estava num Fran's, da FNAC da Pedroso de Morais, quando deu na TV que um Airbus da TAM vindo de Porto Alegre não havia conseguido frear na pista de Congonhas, etc.)


CARLOS MENEM DANÇOU ROCK AND ROLL COM A PERNA MECÂNICA DE ED SULLIVAN O Planeta Diário uma vez elegeu o Décio Piccinini "O bolha do ano". Sim, Décio era um bolha, mas pelo menos era um sujeito engraçado, especialmente quando fazia cara de tarado para as moças que iam dançar no Show de calouros do Sílvio Santos.


THOMAS PYNCHON O lote quarenta e nove a que se refere o título do livro é o dos selos supostamente fraudados pelo suposto sistema Tristero, sistema supostamente surgido na baixa Idade Média para combater, via terrorismo, o monopólio dos serviços postais exercido na Europa pela família Thurn und Taxis. O leilão do lote 49, de Thomas Pynchon, foi um dos deleites de minha atormentada e errática juventude.


BEIJE CAVEIRAS E COMA BARATAS PARA ENTRAR NO CINEMA BRASILEIRO Foi a chamada no Notícias Populares para a matéria sobre os testes de atores que José Mojica Marins vinha fazendo, em 1967.


LEA MARIA JAHN Lea é bonita (lembra, aqui e ali, a Vera Fischer), fotografa bem e parece ter potencial como atriz. Como humorista, hum, é aquela coisa millennial sem graça, o "gringo" que ressalta o que há de pitoresco no Brasil, stand up comedy, essas coisas que fazem os Eudes ("os colega da firrrma") se matarem de rir. Meu palpite é que Lea faria uma Fraulein estupenda se algum cineasta resolvesse refilmar Lição de amor, Eduardo Escorel, 1975. Mas não haverá refilmagem nenhuma e, quando o humorismo estiver definitivamente inviabilizado (já pegaram no pé dela por causa da boa e inofensiva piada do amigo judeu dado de presente), a bela Lea se engajará em alguma modalidade de proletarismo pós-moderno pra defender o aluguel, o plano de saúde e o arroz com tranqueira, como dizia Plínio Marcos.


VÁ AO TEATRO, MAS NÃO ME CHAME A máquina, de Adriana Falcão (mãe da Clarice, etc.), num SESC (Belenzinho?), em 2004. Lázaro Ramos e minúsculo elenco. Uma hora os atores subiam num gira-gira e ficavam lá, girando e falando. Havia menos de dez pessoas na platéia e dentre os dez estava o Paulo Autran. Autran, que com toda razão devia estar achando aquela peça uma bosta, uma hora acendeu um cigarro. Ninguém deu um pio.


J. R. EWING Parece que o ator Larry Hagman foi um dos primeiros militantes antitabaco entre o pessoal do showbiz. Realmente? Com aquele olhar bovino e aquela expressão de pateta no rosto não deve ter convencido ninguém. No final da vida teve que trocar o fígado, cachacista juramentado que era, como diria Odorico Paraguaçu. "Macaco, olha pro teu rabo", etc.


GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA LITERATURA Alexander Portnoy dialogando imaginariamente com sua mãe, via psicanálise, dizendo-se maravilhado com o fato de que, apesar de Sophie e de seu empenho em transformá-lo num "menino judeu obediente", ele não virou "uma bicha louca, dividindo uma cabana em Fire Island com um sujeito de rímel nos olhos chamado Sheldon; sim, é espantoso como, apesar disso tudo, eu tenha conseguido penetrar no mundo das boc…". (Portnoy's complaint, Philip Roth, 1969.)


(12/09/2023)