ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

ESSE FILME FOI PRODUZIDO ORIGINALMENTE EM PRETO E BRANCO Estamos em férias na praia, férias de julho do ano de 1984. A TV, um aparelho Colorado, conectado a um sintonizador UHF, mostra a vinheta da Sessão Coruja, depois a ficha da censura. O filme, O Jovem Frankenstein, começa. Ficamos aloprando o Ivan, um de nossos amigos, dizendo que ele parece o Frankenstein do filme. (Ivan tem onze anos e já está com um metro e oitenta e dois.) A Rua Vitório Morbim está tomada pela neblina. Estão presentes na sala de casa o Juninho (Odorico Paraguaçu bebeu água de privada no suplício de Salviano), Toni (Toni dançou rock’n’roll com a perna mecânica de Inri Cristo), Ivan (Doutor Phibes tocou sanfona no fuzilamento de Ivan), Elton (seu Heitor cagou nas calças no disco voador de Jacinto Figueira Júnior), eu e meus irmãos, João e André.

FECHA A JANELA, JOÃOZINHO Consigo ouvir e achar interessantes alguns trechos do Arrigo Barnabé por não mais que cinco minutos. São Paulo, 31 de dezembro de 1999, falta pouco, pouco, muito pouco pro ano 2000, de Clara Crocodilo, pra mim é o bastante. Tubarões voadores, a faixa, é legal. Ouço-a inteira uma vez a cada dois anos. Orgasmo total, enquanto não entra a banda e aquelas vocalistas com voz de gralha, vai até que bem. Arrigo parece ser um cara bacana, com um senso de humor meio sombrio com o qual tenho afinidade. Suas imitações do Gil Gomes são hilárias. É bastante autocrítico e sabe que grande parte do que compôs não passa de experimentações falhadas. Suas duas missas, para Itamar Assumpção e Arthur Bispo do Rosário, são horrendas.

TATIBITATE A Tati Bernardi até que é bonitinha. Tem cara daquelas nerds mocorongas que um dia você descobre ter umas taras meio incomuns, etc. Um diretor de cinema sacana, canalhão e talentoso podia tirá-la da bolha folha-esquerda-feminismo e colocá-la numa cena como aquela que o Mojica concebeu e dirigiu em Trilogia do terror, a mulherada tendo a roupa arrancada a chicotadas, enquanto um maneta toca bongô. (Sugestão: podiam colocar o Nasi, tomado por algum exu, suando à beça e castigando o atabaque.) 

MONGA COEN Monga Coen aparece no meu Instagram mandando um venham-ver-é-sensacional para uma peça sobre Alister Crowley. Tsc, tsc, não adianta. Por mais que mude, se ligue, caia em si, esse pessoal que encheu a cuca de LSD nos anos 1970 em algum momento sempre vai acabar exibindo em público a cabeça batendo pino.

INTERVENÇÃO MILITAR Interessante que Rindu, Martina e o outro cujo nome esqueci, em Blecaute, Marcelo Rubens Paiva, passam a transitar militarizados por aquele mundo estranho em que havia sobrado só eles três. Sim, uma hora eles saqueiam do quartel no Ibirapuera veículos blindados, fardas, armamentos, etc. Noutra parte, um deles pega uma barca da Rota (v. veraneio vascaína vem dobrando a esquina), descobre uma quantidade razoável de maconha no porta-luvas e saí com o carro por aí, procurando algum ******* para esculachar, plantar droga pra forjar flagrante (v. Cê tá pensando que Erasmo Dias é Erasmo Carlos?), etc.

BLECAUTE SALVA NEWTON CRUZ DA CADEIRA ELÉTRICA Não sei se a peça de teatro chegou a ser feita, Blecaute, baseada no romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva, mas o Kiko Zambianchi fez uma de suas músicas mais legais, mais bonitas, para a trilha dessa peça. Ouçam: https://youtu.be/c8l8cYQM1zk?feature=shared

 

(Não adianta, canções modais em modo dórico sempre quebram minhas pernas.)

 

CAPAS DE PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, PORQUE, WELL, SEM CHANCE Wilza Carla, 144 kg, não foi capa de Playboy, mas apareceu nas páginas de uma revista hardcore, Club, Fiesta ou International, em 1982. A seção da revista que mostrou Wilza nua se chamava Banhas eróticas. (Em idos tempos havia uma revista pornô que mostrava mulheres rechonchudas, acho que se chamava Chubby. Ou Cheri, sei lá.)

21/03/2025