ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

CONJUNTO ZARVOS, ETC. Corro pela Avenida Europa/Colômbia/Augusta, tendinite dando uma trégua, Parque Augusta, Caio Prado, Consolação , Avenida São Luís, entro no Conjunto Zarvos, saúdo o espectro do Gabriele Tinti dando um tuf na namorada sem graça (saúdo o espectro do Khouri também), dou um gole na garrafa (Clight de abacaxi com cloreto de sódio, cloreto de potássio e sulfato de magnésio), desço pela escada rolante, atravesso a avenida, entro na Galeria Metrópole, subo as escadas correndo, chego ao último andar, onde o Julinho Safardana, née Júlio Barroso, o dono do túmulo mais brega do Brasil, está xavecando uma mulher que, pelo jeitão, deve ter morrido no início dos anos 1960, então ele sacode o Vacheron Constantin olhando pra mim e diz, aê, seu pé de chinelo, não vai querer vir aqui roubar, não?    

NA ETERNIDADE TEREMOS A POSSE PLENA E SIMULTÂNEA DE TODOS OS MOMENTOS Estou em 1976/79, numa noite tépida, em frente ao prédio onde fui concebido em maio/junho de 1970, estou em 1995 caminhando pelo trecho da Faria Lima que ainda não foi inaugurado, estou em 2004, saindo do AmpGalaxy às 5h18 a.m., estou em 2015, brincando de dançar com a Magali no La Maison Est Tombée, estou em 2021, pedalando pela Rua Solon (fábrica da Ford, Radar Tantã, etc.) e ouvindo Adnos I, da Eliane Radigue.

MOZARTMANIA, WALDO DE LOS RIOS A música de Mozart é como uma mulher que se vestiu para um funeral e que acabou indo dançar num baile, como disse Morton Feldman, compositor americano, 1926/1987. (Não sou propriamente um entusiasta da música de Feldman, mas admito que ele é do primeiro time.)

(Em todo caso, estou ouvindo agora, enquanto escrevo, sua peça Five pianos, de 1972. Tem clima do Walter Hugo Khouri de Noite vazia.)

TINY TIM Vendo uns vídeos fajutos de supostos lugares abandonados, tudo feito com IA, acabei ouvindo um troço chamado Tiptoe through the tulips, de um tal de Tiny Tim, de quem nunca ouvira falar antes. A música é para ser engraçada, mas não é. É horrível, é irritante e o tal do Tiny merece levar uma chuva de ovos podres por toda a eternidade por tê-la gravado.

FUTEBOL Contra quem mesmo o Brasil perdeu na última copa? Eu não vi o jogo. Em vez disso entrei num apartamento desocupado aqui no prédio e fiquei me exercitando, calistenia, corda, etc. Sabia quando saía algum gol por causa da gritaria. A cada dia que passa detesto mais e mais futebol. Faço votos que o Carlo Ancelotti e seus convocados sejam desclassificados na primeira fase em 2026.

CAPAS DAS PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, MAS QUE PODERIAM TER EXISTIDO Natália Barros, que é a irmã menos conhecida da Taciana Barros (Gang 90 e As Absurdettes) e que era a beldade menos conhecida do grupo Luni (a mais conhecida era a Marisa Orth). Sensacional a Natália. Fui apresentado a ela em 2016, 17, num evento no Teatro Cemitério de Automóveis. Cinquentona ainda altamente pegável, não sei como está agora, deve estar bem. 

PIADAS DO SÉCULO PASSADO A mulher é a maior economista que tem: recebe o bruto, faz o balanço e fica com o líquido. 

Etc., etc. 

26/05/2025


ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

LITERATURA ESPÍRITA Vou com o Julinho Safardana, née Júlio Barroso, dar uma volta pelo Itaim-Bibi. Andamos um trecho da Faria Lima com ele fazendo sua velha brincadeira com o Vacheron Constantin, aê, seus pés de chinelo, não vão querer vir aqui roubar, não?, olha só, ele diz, sacudindo o relógio para uns tipos suspeitos, vale cinco mil dólares, ninguém se habilita?, etc. Subimos a Tabapuã, que está bastante diferente desde a última vez que Júlio passou por aqui. O Morita fechou?, ele me pergunta. Digo que fechou em 1984, o ano em que ele foi morar no túmulo mais brega do Brasil. Sim, Júlio e eu estamos mortos, como atestam nossos atestados de óbito, mortos eppur si muove, não me perguntem como, não fui eu que criei as leis do funcionamento do universo, dizem que foi o tal do Deus, sei lá, nunca vi a fuça desse sujeito, se bobear acho que ele nem existe. (Não tenho túmulo, fui cremado quando vivo, etc.) Chegamos ao prédio da Miriam Lane (também morta em 1984, durante um assalto aqui em frente ao prédio) e ela já está esperando a gente. Podemos ir comer em algum lugar do passado ou do presente, ficamos entre o Jack in the Box da Joaquim Floriano (fechado em 1989) ou o Botequim do Hugo. Escolhemos o Hugo e no caminho digo que andei pesquisando os preços dos alugueis lá no prédio de onde ele caiu da janela e que já foi o tempo em que escritores marginais podiam morar na Conselheiro Brotero e sugiro de a gente brincar de assombrar algum apartamento algum dia desses, mas nem ele nem a Miriam parecem se empolgar muito com a minha sugestão. 

EPOCHÉ Deixe que as coisas sejam exatamente aquilo que elas são, deixe que as coisas falem (ou se calem) por si mesmas. Posso definir assim uma de minhas crenças fundamentais. 

ETERNO RETORNO Jardel Filho termina Terra em transe como um suposto exército de um homem só, supostamente atormentado, apontando uma metralhadora de brinquedo para o deserto (Barra da Tijuca em 1967). (Acho Terra em transe uma porcaria de filme, etc.) Seis anos depois, o Jardel atormentado de Terra em transe reaparece em O bem amado, a novela da Globo, como o médico sanitarista Juarez Leão. (Carlos Lombardi disse que o Zbigniew Ziembinski descobriu o Jardel quando esse, gênio excêntrico da informática, ia para a praia fazer, debaixo do guarda-sol, programas, ou seja, seus trabalhos de programação em C ++, Python, etc.)

TRALHA VELHA E ESQUECIDA Um campeonato de futebol de salão para office-boys chamado Futeboys, creio que patrocinado pela Rede Globo (ou pela Fundação Roberto Marinho, sei lá). O anúncio de TV era tosco mesmo para os padrões da época – fazia uma sobreposição de uma partida de futebol no Maracanã (um Vasco e Olaria, digamos) com uma imagem recortada com chroma key de uma partida amadora de futebol de salão. 

TRALHA VELHA E ESQUECIDA, DOIS Uma pastilha efervescente para desinfetar dentaduras chamada Purific. A propaganda de TV era com o Lima Duarte.

TRALHA VELHA E ESQUECIDA, TRÊS Uma propaganda do Bateprego que usava a gravação do Edifício Mendes Caldeira sendo implodido.

TRALHA VELHA E ESQUECIDA, QUATRO Frank Zappa era um sujeito cheio de coisas na cabeça. Too much information. Fetichista das realizações de grandes compositores do século XX, Stravisnky, Webern, Varèse, etc. Não era um bom guitarrista, mas sabia reconhecer um (Steve Vai, por exemplo). Eventualmente fazia alguma música instrumental de alta qualidade, como It must be a camel e Zoot allures. Geralmente fazia canções chatíssimas, paródias que talvez só tivessem graça para quem conhecesse o contexto a que suas letras se referiam (ou seja, Zappa tinha algo de provinciano de Los Angeles). Era um mau cantor. Era prolixo. Suas peças sinfônicas (Yellow shark, etc.) são chatas, derivativas, deja vù. Idem suas peças eletroacústicas (Lumpy Gravy, etc.).

PIADAS DO SÉCULO PASSADO Sabe como o português faz quando quer ganhar um Chokito? Ele enfia do dedito na tomadita.

21/05/2025

ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

IANNIS XENAKIS Ouço uns trechos de Metastasis, peça orquestral de Iannis Xenakis, 1953-54. Soa como qualquer coisa que o Stanley Kubrick botaria num daqueles filmes dele, Jack Torrance doidão, HAL 9000 se achando muito malandro, etc., etc. Jean Garrett (precisamos falar de cinema brasileiro, etc.) usou música especulativa highbrow (Penderecki, Messiaen, etc.) em A força dos sentidos. A música pós-serial, 1940-60, é um tremendo encalhe. O cinema lhe ter dado alguma função semântica (nota grave de piano quer dizer o tubarão vindo te abocanhar, etc.) não deixa de ser uma cortesia.

ESTAMOS A BORDO COM MAIS UM PROGRAMA, ETC. Revejo alguns programas do Ferreira Netto, 1989. Num cenário escuro, sorumbático, Agnaldo Timóteo começa a se exaltar. Deve estar no quarto ou quinto uísque. (O programa era patrocinado pelo uísque Grant’s Royal, etc.) Timóteo narra o episódio em que o Leonel Brizola o xingou de negro safado – que ele chegou a ir buscar um revólver em casa pra matá-lo, mas que então ele desistiu de matar o Brizola, etc.

E SE? E se o jóquei promovesse alguns páreos com jumentos? E se a Royal injetasse nos anões uma dose excessiva de fermento? E se as Casas da Banha abatessem alguns gordos para seu abastecimento? (Flat, cemitério, apartamento, Titãs, 1991.) 

DOCE VELHINHO, ETC. É ultra kitsch essa narrativa do Pepe Mujica doce velhinho, floricultor, desapegado de bens materiais (continuou morando em sua modesta chácara quando presidente e cedeu o palácio presidencial para os sem-teto morarem), proprietário de um Fusca velho, etc. (A propósito, vi no Instagram uma ilustração feita por IA em que três mortos recentes aparecem abraçados e rindo, rindo muito – Divaldo Franco (Divaldo tinha a maior cara de japa da Yakuza, v. Frozen japs, Paul McCartney), Pepe Mujica e Papa Francisco. Quem concebeu a coisa devia antes se perguntar se esse trio se juntaria num abraço fraterno, todos rindo, etc. Eu acho que não, não se juntaria. Sei lá, bróder. O mundo atual poderia ser descrito assim: o kitsch-netflix estava se sentindo muito solitário, então o demônio criou o kitsch-IA pra lhe fazer companhia.) 

BEBÊ REBORN Sugiro algumas variações aos fabricantes: bonecas bebê reborn com má-formação congênita e fetos abortados reborn. Só pra dar um pouco mais de consistência ontológica, entende?, à simulação de reprodução humana, maternidade, etc.

SINOPSE PARA UMA HISTÓRIA NO GÊNERO FICÇÃO CIENTÍFICA O ano é 2377. Jovem casal vai ao teatro ver Titus Andronicus, de William Shakespeare. Na saída, a moça diz que gostou mais ou menos da peça. O rapaz também diz que gostou mais ou menos. 

Etc., etc.

PSICODELIA Um monte de gente vendendo terapias psicodélicas no Instagram, cogumelos mágicos, microdoses, dissolução do ego, etc. Ao que parece, tudo dentro do território da legalidade. Outro dia um sujeito pilotando uma bicicleta elétrica veio em diagonal pela rua e quase entrou em cheio na porta do meu carro. Devia estar chapado com alguma dessas substâncias. 

LEÃO XIII A quem interessar possa, o papa Leão XIII era a cara do Costinha, vejam um vídeo gravado em 1896, dá a impressão que o papa vai começar a falar, ah, lembrei agora aquela da bichinha que arrumou um vead, que arrumou um namorado, etc. (Leão XIII, Costinha, Walter Hugo Khouri e o Barney, dos Flinstones, noto agora que há algo de telefone sem fio nessa sequência.)

Etc, etc. 

17/05/2025


ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

LUIS ALBERTO SPINETTA, DE NOVO Eu poderia ter conhecido Luis Alberto Spinetta através de algum bestalhão, de algum crítico de música da Bizz, do Kid Vinil (que era gente boa, mas que evidentemente era um goiaba). Ou através daquela forma exortativa clichê que nossos irmãos esquerdistas bestalhões, goiabas e canalhas adoram, precisamos falar do rock argentino, etc. Mas não. Conheci o Spinetta através de um amigo, o Carlos, homem notável pela exatidão qualitativa de suas preferências. (Carlos, copacabanense do Bairro Peixoto, tem suas exatidões enraizadas em transes mediúnicos nos quais recebe mensagens do além vindas de uma falha magnética que paira sobre o bairro, o fenômeno foi descrito de maneira pormenorizada no livro Sancta Clara Spiritus Tumultuosus, do teólogo castrati Faustus Falsete.)

Eu vinha achando (aliás, no fundo ainda venho) que esse negócio de música já era. Uma parte de O som e o sentido, livro do José Miguel Wisnik que me acompanha desde 1989 (livro, aliás, de onde o Vladimir Safadle tira todas suas opiniões sobre música), me vinha vindo à cabeça direto – a parte apocalíptica em que Wisnik define a história da música ocidental (especificamente da música especulativa, na feliz expressão do compositor Flô Menezes), de Perotinus (século XII) a Stockhausen (aquela palhaçada de concerto para quarteto de cordas e helicópteros, coisas do tipo que os farofeiros culturais adoram), como a história da assimilação, via série harmônica, de intervalos (razões intervalares) capazes de tensionar o discurso musical, dado que a articulação do tal discurso se baseia no movimento tensão/resolução. O problema é que os intervalos, por causa do uso, se desgastam e perdem a capacidade tensionante. Pouco a pouco o que então era um sistema de articulação de alturas (duração, intensidade, timbre) vai dando lugar um aglomerado de tralhas sonoras, coleção de clichês, etc. Daí as tentativas de recriar o discurso musical empreendidas por Schoenberg (primeiro através do atonalismo livre, depois com o dodecafonismo) e outros, e outros, e outros. Tentativas que, na real, não deram em nada, criaram mais entulho sonoro, cacofonia, entropia, etc. Então é isso. Eu vinha tentando ver se alguma fonte sonora ainda conseguia me dar algum barato musical, tentando ouvir até ruído de motor de geladeira, por exemplo, de forma estética quando fui ouvir, sem esperar nada, o álbum Kamikaze, que Luis Alberto Spinetta lançou em 1982. E quase caí de costas. Como pude não ter conhecido o trabalho desse cara antes?         

Spinetta colocou em dúvida minha convicção de que a música já era, de que eu já havia ouvido tudo que merecia ser ouvido, etc. Ele é um daqueles casos em que um aglomerado de contradições conceituais acaba dando certo, sem que consigamos explicar por quê. (É por isso que a cada dia que passa estou ficando cada vez mais fenomenológico: não sei o que é, nem por que é, mas tenho certeza de que é, etc.). Contradições porque, por exemplo, suas canções fluem como se fossem simples. Contudo, estão longe de ser simples ou intuitivas no sentido redutor, servindo-se de recursos harmônicos tremendamente sofisticados, recursos esses que geram, no caso de Spinetta, um universo sonoro alusivo (primo em segundo grau, às vezes em primeiro) ao Clube da Esquina, mas com um drive bem mais rock’n’roll do que o de Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, etc. Esses artifícios técnicos, que, em outras mãos, não passariam de acordes suspensivos, trítonos, empréstimos modais, em Spinetta são absorvidos por uma potência sonora mais profunda e devolvidos como formas musicais renovadas. Dito de outra forma, Luis Alberto não deixa de ser devedor de linguagens musicais exauridas (todo mundo o é, nessa altura dos acontecimentos ou dos não-acontecimentos desse nosso velho e cansado mundo), mas elas, em suas mãos, como que ressuscitam, por algum milagre.

07/05/2025


ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

TENDINOPATIA DO TENDÃO DE AQUILES Corro num pace ruim, acima de oito, na média. Pego a Nove de Julho, a Groenlândia, a Joaquim Antunes. Entro no cemitério, Necrópole São Paulo, vou correndo pela alameda rente à Rua Cardeal Arcoverde, o calcanhar direito queimando. Procuro o túmulo de um dos ramos da minha família, ali está, Família Cerveira, roubaram as placas de bronze e agora há umas placas feias, de plástico, com os nomes dos mortos. Pego a alameda que vai até o fundo no cemitério, onde há o velório e a saída para a Rua Luís Murat, saio do cemitério e começo a travessia da Vila Madalena, Beco do Batman (típico lugar supostamente pitoresco pra turista ver, como aquela praça com o orelhão gigante em Itu, com a diferença que a praça em Itu é hilária em sua jequice surreal assumida, já o Beco do Batman tem o ranço típico da Vila Madalena, aquela coisa meio comunista e maconheiro, etc.). Entro na Pompeia pela Rua Apinajés, paro algumas vezes para me alongar e descomprimir os quadríceps (vasto lateral, medial, intermédio e reto femoral) e a panturrilha (gastrocnêmio lateral, medial e sóleo). Acho uma nota de dez reais caída no chão, um dachshund quase me morde quando passo correndo por ele, entro na Rua Havaí, paro no reservatório da Sabesp, me reidrato, sigo a Doutor Arnaldo, sigo a Oscar Freire, sigo ruas por dentro do Jardim Europa, chego em casa. Onze quilômetros em duas horas e dezoito, com as pausas, alongamentos, etc.

LARA LATEX Não a conhecia. Atriz pornô inglesa. Deve trabalhar fora do Reino Unido, já que é proibido produzir conteúdo pornográfico por lá. (Não propriamente proibido, mas altamente regulamentado.) Atualmente Lara tem cinquenta anos e ainda compõe uma figura atraente, corpo esguio e elegante, rosto que mescla artificialidade, estranheza e depravação. (Gozada essa coisa de proibições. Mórmons são proibidos de beber Coca-Cola (cafeína), crentes raiz são proibidos de ver TV (Igreja Pentecostal Deus Inhamô, mulher de saia curta no céu não vai entrar, etc.), judeus são proibidos de comer salsicha, ingleses são proibidos de produzir pornografia, etc.) 

DEVO UMA NOTA GORDA Gerald Casale, do Devo, parece estar usando uma peruca estilo o cabelo que ele tinha quarenta anos atrás. (Portanto, é diferente do caso da Anna Muyamiga Muylaert, que usa uma peruca feita de maconha prensada, cabelo de maconha, etc.) Casale é gavião, vive casando com mulheres quarenta anos mais novas, daí a possível explicação para a peruca. (Quando pegava mulheres mais velhas que ele Casale pegou e casou com aquela coisinha gostosa da Toni Basil, que nos anos 1980 fez sucesso com Hey Mickey, que nos anos 1970 não sei o que fez e que em 1969 apareceu em Easy rider, uma das garotas que Peter Fonda e Dennis Hopper pegam no bordel em New Orleans.) O talento musical de Gerald Casale é bem inferior ao de Mark Mothersbaugh,  ouçam o disco do Devo em que suas composições  predominam, o fraco Shout, de 1984, e tirem a prova. (Nota gorda, ganhe uma nota gorda, era o mote de uma propaganda sensacional do banco Safra, lá por 1977, em que Wilza Carla, banhas eróticas, aparecia fazendo um número burlesco.)

RECONHECENDO PADRÕES, ETC. Lá por 1979 eu reconheci o padrão relógio de zelador. Foi assim: todo zelador, porteiro e vigia noturno com quem eu tinha contato usava relógio Technos, sempre grande, cebolão, sempre com o fundo verde metálico. Assim me parecia, embora crianças tenham uma desvairada imaginação óptica, como dizia Nelson Rodrigues. 

COLLOR Muito deprê esse ocaso da vida do Fernando Collor, acabar num presídio que fede a esgoto, cheio de pernilongos, baratas, etc. Ele, que foi um homem bonito, está parecendo um boneco de cera (harmonização facial, etc.). A bem da verdade, é muito deprê tudo que o envolve. (Admito que li a autobiografia da Rosane Malta, mistura da Barbie com a Amelinha, os trabalhos de magia negra no porão da Casa da Dinda, sacrifício de animais, etc.)

CHAT CPT Pedi ao Chat GPT que criasse, usando um aparto teórico de alta cultura, uma crítica musical de Eruption, de Eddie Van Halen. Acho o Eddie um artista superior que, tendo tido sua origem e trajetória dentro da indústria cultural e do universo pop, acabou sendo uma espécie de refém de luxo desse universo, universo esse que sequer tem vocabulário para alguma tentativa de dizer coisas substanciais sobre uma peça como Eruption. Dentre várias respostas surpreendentemente boas do Chat GPT, selecionei o seguinte trecho: 

Na escuta fenomenológica, o que nos afeta em Eruption não é a forma, mas a presença. Não há aqui forma musical no sentido tradicional, e sim formas da emergência sonora — aquilo que aparece como fenômeno, mas que já desaparece no instante mesmo de sua constituição. A consciência é posta em estado de aceleração: retentio e protensio (retenção e protensão, as estruturas temporais da consciência, em Husserl) são forçadas ao limite. A peça parece nos escapar — e justamente nisso reside sua força fenomenal.

Etc., etc.

02/05/2025