HOJE NA SESSÃO ESPÍRITA DA TARDE... CURTINDO A MORTE ADOIDADO Vamos a uma sessão espírita na Rua Iguatemi, 347, Itaim-Bibi, telefone 282-6909 (v. Borrão Federal falando, com boquinha de federal, “as joias do cofre”). Em 2025, tempo sucessivo e linear, a casa não mais existe como ente separado, tendo sido fundida a um desses restaurantes para os Eudes (“os colega da firrrma”, “lá em São Bernarrrdo”, etc.) da segunda divisão da Faria Lima. Mas na eternidade, em que temos a posse plena e simultânea de tudo que foi produzido pelo tempo (v. William Blake & As Mercenárias, “a eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo”), a casa da Iguatemi continua-sendo/é-e-sempre-será em sua plenitude, sendo por isso indissolúvel, e acessível, e adentrável. Etc., etc. Chegamos lá à meia-noite, a hora que apavora a Borrão Federal (v. Borrão Federal Reserve Note dizendo que só fala com o gerente, só cuida de milhões). Meu tio que morreu em 1979 na Av. Iraí, 300 nos recebe. Ele fala e gesticula através de um boneco mecânico que o Júlio Barroso Safardana roubou do ator Vincent Price (Doctor Phibes Clockwork Wizards). Júlio pergunta a meu tio clockwork quando vai chegar o médium. Depois pergunta quando vão chegar o báixum e o áltum. Etc., etc.
RUA IGUATEMI, 347 Depois que minha família vendeu a casa, ela abrigou um restaurante (1980-82), uma academia (Centro Iguatemi de Musculação, 1983-85), uma casa noturna gótica (Zóster, 1986-87), uma clínica de abortos (“Clínica Herodes – Promoção Black Friday – Faça três abortos pelo preço de dois!”), alguns salões de beleza.
“AH, OS ANOS OITENTA, A INOCÊNCIA DAQUELE TEMPO”, ETC., ETC. A história da empregada doméstica que dava pra todo mundo num prédio no Itaim-Bibi (v. Promiscuidade, os Pivetes de Kátia, Fauzi Mansur, 1983), empregada doméstica (v. A,mé,ri,ca, triiiiiiim) que, dada a conduta, acabou ficando grávida, impossível saber de quem, e que a garotada-rapaziada-velharada toda do prédio, todos potencialmente pais da criança, fizeram uma vaquinha e pagaram seu aborto. (Sugeriram até fazer um bingo beneficente no salão de festas do prédio pra levantar a grana, mas perceberam que a coisa não ia pegar exatamente bem.)
SUPER-HOMEM CASCATEIRO, SÓ FAZ FORÇA NO BANHEIRO Um paranormal que atendia no Tatuapé, na Rua Cantagalo, no início dos anos 1990. O seu Washington. Meu irmão André fez umas sessões de energização com ele. O cara era aquela mistura típica de paranormal com charlatão gabola. Havia uma pedra verde lá no consultório do seu Washington que ele dizia ser uma safira de três mil quilates, um presente que havia ganhado do presidente do México por ter curado a filha do sujeito de um câncer, etc., etc.
ESQUERDISTA TEM MAIS É QUE SE FODER, DIREITISTA TEM MAIS É QUE TOMAR NO CU A cultura woke, o denuncismo, os cancelamentos, a condenação de humoristas em processos criminais, etc., etc., tudo isso evidentemente deu incontáveis vitórias táticas à esquerda. Por outro lado, lhe impingiu uma imensa derrota estratégica, que foi conceder à direita o papel de “defensora da liberdade de opinião”. No plano simbólico e imaginário, senão no prático, o esquerdista virou o canalha mesquinho pronto pra ferrar com sua vida por causa de uma ironia não entendida como tal. E o direitista virou o guardião de tudo de bom que a vida tem a oferecer, coisas como contar impunemente piadas de veados, portugas, kid creole and the coconuts, etc., etc.
VERITATIS SPLENDOR Um amigo me fala de um amigo que andava circulando de SUV Volvo, todo mundo pensando que o sujeito estava montado na nota, mas que, bah, na verdade o sujeito está quebrado, devendo até as cuecas, que as parcelas do financiamento do carro estão atrasadas, que a coisa certamente vai terminar em busca e apreensão. Como dizia o Paulo Francis, acho ultra Xangai alguém pagar X (sei lá, duzentos, trezentos mil reais) por um automóvel.
Oh yeah. Etc., etc.
28/11/2025