ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

GORDA ONOFRA, ETC. É 1983. Um sujeito chamado Giancarlo, mais ou menos vinte anos, nota que o André, que tem nove, é um garoto facilmente irritável (v. Fiante, Machão, etc.). Giancarlo então começa a chamar insistentemente o André de Gorda Onofra. André vai até em casa, pega um objeto perfurocortante (faca, chave de fenda, etc.) e manda avisar que se aquela coisa de Gorda Onofra continuar ele vai furar um pneu do carro do Giancarlo (um Opala bege, estilo cafajeste-1983). Etc., etc. Em 1991. Dois sujeitos, PL e Juninho (v. “Abre o portão, Porcão Melecão”), jogam uma mistura de cuspe, vinagre e milho de pipoca no André. André, com os dentes trincados, empurra uma mesa contra os dois, tentando prensá-los contra uma parede. Etc., etc. 1989. No apartamento do Duto um sujeito chamado Pé na Cova está dizendo coisas estúpidas e ofensivas contra mim (acho que tivemos um conflito por causa de mulher, não me lembro direito). André toma minhas dores (dores que não estou experimentando de forma alguma) e diz, furioso, para de ofender meu irmão, etc., etc. Depois, ao sairmos do prédio, ele para em frente ao Fusca do Pé na Cova e começa a bater violentamente com a base do pé num dos para-lamas dianteiros do carro, uma, duas, três, quatro, cinco vezes.

A MALA DO CARLÃO Na casa da minha tia Gylka, Rua Iguatemi, 347. O André meio que se apossa de uma mala preta de couro, parecida com a que o Carlão (v. “Chanel comeu merda na carroça de Francisco Cuoco”) guarda aquele monte de notas de cem cruzeiros. Quando tiram a mala dele, André diz que vai comprar uma na padaria. Em 1977.

MÚMIA PARALÍTICA Na Copa de 1978, num dia de algum jogo importante que todo mundo está vendo. André senta-se numa poltrona na entrada do prédio e fica lá, balançando (um movimento pra frente e pra trás que ele fazia com o tronco). O Marcílio, Paraná, Múmia Paralítica, interfona para casa e avisa que o André pegou no sono. Balangô, balangô e dormiu, diz o inolvidável Paraná.

EPPUR SI MUOVE Julinho Safardana vai entrevistar o Nelson Rodrigues usando uma camiseta com a frase Deus prefere os suicidas. A entrevista acontece no São João Batista, à meia noite, a hora que, segundo Machado de Assis, apavora. Julinho pergunta, com uma voz fininha de criança que baixa em centro espírita, se é verdade que a macumba pra fazer o Nelson baixar em terreiro tem só dois ingredientes, água da bica e um maço de Caporal Amarelinho. Nelson acha graça e diz que está faltando a flâmula do Fluminense na macumba. Etc., etc. Então Julinho e Nelson começam a levantar hipóteses sobre quais ingredientes devem constar na macumba pra fazer baixar certos espíritos, etc., etc. Pro Cazuza baixar o despacho deve conter cocaína, uísque e uma imagem do São Sebastião flechado. Pro André, irmão do Eduardo Haak, baixar o despacho deve conter uma caixa de Marlboro Gold, uma chave de BMW e uma Playboy da Vera Fischer. Pro Costinha baixar o despacho deve conter uma lata de laquê e uma Raspadinha da Loterj já raspada. Etc., etc.

PIADAS DO SÉCULO PASSADO QUE EU NUNCA ENTENDI Uma que o Costinha conta num de seus discos, uma que ele faz a pergunta, jacaré no seco anda?

PIADAS DO SÉCULO PASSADO Uma que o Costinha conta num de seus discos, de um sujeito que tira uma moça para dançar e quando ela se levanta ele vê que ela usa duas pernas de pau, que aí o sujeito acaba indo com a moça para o jardim da casa, que aí um bêbado vê os dois lá e comenta, vamos embora, pô, se já estão comendo carrinho de mão, cu de bêbado então, etc., etc.

15/10/2025