ALÔ, ALÔ, CHAMANDO, por Eduardo Haak

CORRE COTIA NA CASA DA TIA Atravesso a Tabapuã, ligo o cronômetro, começo a correr, ativo a cintura escapular, sinto os braços pendularem, pisada neutra, pronada, supinada. Sigo o leve declive até a Cidade Jardim, observo o terreno onde era o prédio da DPZ, demolido, agora a linha reta, Cidade Jardim, Europa, Augusta. Ontem eu subi a Ministro Rocha Azevedo e desci a Joaquim Eugênio de Lima, 8,4 km em hora e oito minutos.

SURFACE AIR MISSILE Povinho chiando nas redes sociais com a escolha dos atores que farão os bitous (v. Johnny e os Moondogs) em quatro filmes que serão lançados ao mesmo tempo em 2028, dirigidos por um tal de Sam Mendes. Por que a surpresa, ô povinho? O cinema acabou em 2014, os últimos filmes feitos foram O lobo de Wall Street e Garota sombria caminha pela noite. Nada mais depois disso. Esqueçam. Aliás, caguei pra cinema, streaming, Kitsch-Netflix , etc. (V. O hino da Igreja Pentecostal Deus Inhamô, olhei para o cinema e não pude encontrar poder pra me salvar, poder pra me salvar, os filmes de cinema lá no céu não vão entrar, por isso é bem melhor assim cantar, etc.)  

EXIBIÇÃO ATROZ Vejo no Instagram a história de uma velha demente (Alzheimer, etc.) que mordeu um sabonete, o sabonete grudou na dentadura, ela tirou o conjunto dentadura/sabonete da boca e o guardou dentro de um livro. Admitamos: a coisa tem uma dimensão cômica, e uma dimensão cômica considerável. (Para não dizer surreal, De Chirico, etc.) Eu e meus irmãos ríamos até o maxilar travar quando um parente próximo teve uns episódios de descacholamento (v. Odorico Osório, depois Odorico Paraguaçu) e narrava umas histórias completamente malucas. A vida é um horror mesmo, ao menos deixem a gente rir com o horror (v. Joy Division, for entertainment they watch his body twist, etc.).

VIVA A BURGUESIA Vou com meu velho amigo Roberto Bicelli dar uma volta e tomar um café no Shopping Center Iguatemi. Subimos ao terceiro andar e digo que foi nessa escada rolante que a Helena Ignez deu um monte de chutes na canela do Stênio Garcia, A mulher de todos, 1969, direção de Rogério Sganzerla. Quando o Bicelli cansa um pouco de seus amigos esquerdistas pés de chinelo a gente vem ao Iguatemi para ver mulheres bonitas, bem vestidas, etc. 

ROGÉRIO SKYLAB, A CRIARTURA DO ÓDIO DE SATANÁS Numa de suas notáveis intuições (percepção imediata de uma presença) Olavo de Carvalho sugere que, como não temos estatuto ontológico próprio e como não há nenhuma razão para termos sido colocados na existência (v. dasein, Heiddeger, estar aí, e vá lamber sabonete Lux quem complica a tradução), que então só podemos ser criaturas do amor de Deus, ou seja, que Deus nos criou por um puro e livre ato de amor. Em alguns casos, vá lá, admito até que sim. Mas e todos os estropiados? Os aleijados? Os horrendamente feios, sem charme, sem inteligência? Os calvos com cabeça de ovo? Os flácidos? Os obesos? Os débeis mentais? Os que largaram os estudos e que flexionam advérbios (ela é meia chata, etc.)? Criaturas do amor de deus? Sério, você consegue olhar para, hum, o Rogério Skylab e atribuir a ele a definição criatura do amor de deus

CADÁVER ESQUISITO Eu e meus irmãos jogamos cadáver esquisito desde pequenos. Chamamos o jogo de sorteio. Tenho usado o ChatGPT para sortear as frases, combinações, etc. A propósito, vou fazer agora um sorteio com alguns nomes de amigos mais próximos que estão no Instagram e outros que fazem parte do meu mailing. Não se ofendam, tá? É tudo brincadeira. (Quem não aparecer no sorteio e quiser aparecer é só mandar uma mensagem.) 

SORTEIO Roberto Bicelli cagou nas calças no disco voador de Clóvis Bornay. Magali Bragado bebeu água de privada no fuzilamento de Francisco Cuoco. Luciene Lamano jogou pó de pemba no cabelo de lobisomem de Sílvio Santos. Carlos jogou na areia movediça a dentadura de Elisângela. Andrea tocou sanfona na sessão espírita do Reverendo Moon. Toni bateu com a raquete de matar mosquito na assombração de Nelson Ned. Eurico Junqueira cagou o fígado no teleférico de Antônio Marcos. Stella Florence comeu macarrão com barata no exorcismo de Jece Valadão. Marcelo Santos ficou com medo do pneu furado de Moacyr Franco. Roberto Ormond passou com o trator na perna mecânica de Carlos Menem. 

Etc., etc.

ENTREVISTAS DA PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, MAS QUE DEVERIAM TER EXISTIDO Wesley Duke Lee, em janeiro de 1982. Wesley era arrogante, eventualmente rude, mas engraçadíssimo. Figuraça. Imagina só, num meio escamoso como o meio das artes visuais o cara vir à boca de cena e dizer que era a favor da restauração da monarquia no Brasil e que o problema de comunista é que comunista é burro.

02/04/2025