ETC., ETC. Eu dei a dica e o Goulart de Andrade, morto eppur si mouve, pressentiu que a coisa renderia reportagem boa (v. “Mulher rendeira nega viver de renda”). A reportagem: mostrar como está atualmente o prédio do Maksoud Plaza, vulgo Caveirão, sobretudo mostrar o drive in que foi montado na garagem do hotel, o Acapulco Drive In. O Acapulco, que já é um fenômeno da noite dos mortos-vivos paulistanos, é explorado por uma dupla de velhacos, o Espirro (o espanhol do ferro-velho, aquele lá que morreu de gripe espanhola em 1919) e o José Arigó Barnabé, médium dodecafônico e escrevente-psicógrafo de cartório, além de cirurgião doutor-fritz. Então eu, o jornalista Goulart de Andrade e o cinegrafista Capeta chegamos lá e Arigó nos recebeu empunhando uma faca, uma dessas facas de cozinha mesmo, com a qual ele havia acabado de fazer uma complicadíssima cirurgia, a amputação do dedo-duro do Simonal. Etc., etc. Tombado pelo patrimônio histórico, o Caveirão Maksoud, além de abrigar o drive in, também é um conhecido ponto de venda de almas pro demônio (v. “Ibrahim Abraão vende a alma da mãe ao demônio, mas não entrega”). Fomos para a garagem pra ver como estava o movimento do drive in, então eu vi a Variant II da Vera estacionada lá. Nem precisei pensar muito pra deduzir com quem que a ninfomaníaca devia estar dentro do carro. Julinho Safardana, só podia ser. Caminhei até lá e confirmei a suspeita. Ao me ver, ele ficou branco que nem uma ambulância que acabou de sair do lava rápido.
Bonito, hem? , eu disse, debruçando-me na janela.
Vendo ele e Vera, ali, dentro da Variant, comecei a refletir que existem dois tipos de homem, os Júlios Prestes e os Júlios que não prestam. Existem o Júlio Verne e o Júlio Verme. Etc., etc. O Julinho é meu chapa, mas é inegável que ele é um verme imprestável, essa coisa de ele ir para cima da mulher que eu ando pegando, etc., etc. Hugo Lar (ou seja, Goulart) percebeu o boi de piranha na linha (o boi não sei quem é, a piranha é a Vera) e me perguntou, gravo ou não gravo?, você decide. Eu disse, pode gravar, foda-se. Comando da madrugada apresenta: o corno da madrugada. Hugo Lar de Andrade então apertou o botão rec. Pau na máquina.
Hoje o Comando do Seu Madruga vai mostrar uma coisa diferente. Portanto, telespectador, senta no quiabo que a coisa é de cair o cu da birúndia. O que eu vou mostrar hoje, filma aí, ô Capeta, o que eu vou mostrar hoje é uma cirurgia espiritual, um transplante, na verdade. Sabe de quê? Há, há... daqui a pouco eu conto. Quem vai receber o órgão doado é essa figura aí, conhecido de todos vocês, Infausto Silva. Não dá pra entrevistá-lo, o Infaustão, porque ele está, naturalmente, anestesiadão. O doadorzão é falecidão, mas aqui está a cédula de identidade dele, filma aqui, Capetão, conseguiu focar? Ó: sou doador de órgãos. Estão reconhecendo a foto? É, é ele mesmo. O Clodovil. Até aí, nada demais, Clodovil Hernandez, doador de órgãos. Muita gente é doadora hoje em dia. E que bom que hoje há essa conscientização. Etc., etc. O intrigante é esse complemento aqui. Conseguiu foco? Aqui, ó: sou doador de órgãos, do-cu-principalmente. (Hugo Lar de Andrade olha para a câmera e faz cara de que achou graça, etc., etc.) Isso, telespectador, isso não teria qualquer relevância, afinal, cada um dá o que tem ou o que acha conveniente dar. Mas por se tratar de uma cirurgia inédita nos anais da medicina, aqui estamos. Portanto, telesprectador, sentra no criabo pro cru não crair da brunda que hoje o Cromando do Seu Madruga vai mostrar o apresentador Infaustão recebrendo um... transprante de cuzão. (Close do doutor Fritz em transe-só-com-camisinha mediúnico, brincando de fazer mágica com o dedo-duro amputado do Simonal, quer-ver-só-eu-arrancar-meu-dedo?, etc., etc.)
17/08/2025