MORTOS EPPUR SI MUOVE Vou a uma festa no mezanino do Conjunto Zarvos, o lugar onde o Gabriele Tinti dispensa a namorada mala em Noite vazia. Vejo um cartão postal de propaganda que está largado sobre o balcão do bar, 1984: o grande irmão está de olho é na botique dela. Perto do balcão está uma mulher jovem, trinta anos presumidos, com quem eu acho que tive algum contato no Orkut quando estávamos vivos (eu morri em 2007, etc.). Num dos conjuntos comerciais anexos ao mezanino Alexandre Von Baumgarten e Newton Cruz autografam o livro Yellow cake (Newton prefaciou, etc., etc.). Chego à mulher, vou perguntar se foi ela que uma vez me levou pra casa dela, na Rua Vitorino Carmilo, etc., dou uma batidinha em seu ombro, ela se vira e olha para mim e eu começo a falar.
https://apartamentoseduardohaak.blogspot.com/2018/07/manha.html
ZEIBAR’S E METROPOLIS Fui uma vez em cada um. Ficavam um ao lado do outro, no final da Paulista. Diziam que era um lugar bom pra pegar mulher. E lá fui eu, no furor dos meus trinta e três anos, 2004, pegar mulher. O Zeibar’s estava vazio, exceto por um sujeito parecido com o Márcio Canuto, o repórter da Globo, que dançava com duas mulheres com pinta de pilantronas. Etc., etc. Fui para o Metropolis. Bar grande com música ao vivo. Música ao vivo sempre é um péssimo prenúncio, seja do que for. Dizem que o inferno está cheio de músicos amadores, e eu acrescento que está repleto de músicos profissionais que tocam em bar. (v. David Goodis, Atire no pianista, etc., etc.) (Uma vez só a tal da música ao vivo me impressionou bem, uma banda acústica tocando Alice in Chains no O’Malley’s, em 2008.) Encostei numa parede do Metropolis e fiquei ali, avaliando a mercadoria. O.k., tinha mulher. Quantitativamente até que o.k., qualitativamente a mesma média de sempre, num grupo de cem duas bonitas. E a banda castigando U2 e Rolling Stones, e um gordão meio parecido com o Stepan Nercessian encharcado de suor (cocaína, etc.) que insistia em ficar dançando e se esbarrando numa mesa com dois casais cafonas, até que um dos sujeitos cafonas enquadrou o Stepan doidão e o Stepan, depois de rosnar e latir um pouco, colocou o galho dentro.
EDU LOBO Tento ouvir algumas coisas do Edu Lobo enquanto faço musculação. (Pull over é um exercício para latíssimo do dorso ou para peito? O Tiozão do Fitness diz que o peitoral fica em isometria no pull over. Etc., etc.) Deixo tocar uma playlist. Sei lá, bróder. Ponteio é vibrante. Vento bravo idem. E só. Alguma coisa na maior parte das músicas de Edu Lobo não me vai. Parecem músicas do Tom Jobim que não deram certo. Arrastam-se. Depois de ouvir você não consegue se lembrar do que ouviu. (Lembro-me do episódio em que Edu Lobo e Eleazar de Carvalho se atritaram, porque o Edu Lobo queria que os músicos da orquestra que o Eleazar regia se vestissem de índios para tocar. Etc., etc.)
(Pra mim o placar nesse jogo foi Eleazar um, Edu Lobo zero.)
CORRE, COTIA Corro pela Faria Lima até a Pedroso de Morais, depois Rua Natingui, depois a escadaria da Travessa Tim Maia, depois Rua Paulistânia, depois Avenida Pompeia, depois Alfonso Bovero, depois Doutor Arnaldo, depois Oscar Freire, depois Artur de Azevedo, depois Joaquim Antunes, depois Groenlândia, depois Nove de Julho, depois São Gabriel, depois Tabapuã.
CAPAS DE PLAYBOY QUE NÃO EXISTIRAM, MAS QUE DEVERIAM TER EXISTIDO Imara Reis, em outubro de 1986. Imara era aquele tipo de mulher discretamente atraente que acaba desencadeando incêndios descontrolados em nossa libido. Duvidam? Vejam a cena em que Ênio Gonçalves corta sua camisola com uma gilete enquanto ela dorme em Filme demência, direção de Carlos Reichenbach, 1986.
03/07/2025